*Sabrina Gomes
A leitura, assim como a escrita, é um remédio eficaz para a alma. Tanto quem lê quanto quem escreve encontra nas palavras um lugar de organização interior. Os sentimentos se alinham de forma única, e o cérebro responde ao conteúdo com que é alimentado.
No luto, por exemplo, o escritor transforma a dor em verbo. Ao nomear a ferida que carrega no peito, expõe sua intimidade e, ao fazê-lo, encontra no leitor uma identificação imediata. Ambos conhecem o mesmo sentimento, ainda que nunca tenham se visto. Nesse encontro silencioso, compartilham a perda e, à distância, consolam-se mutuamente.
O texto escrito não permanece imóvel. As palavras viajam, tocam, acolhem. Elas organizam pensamentos, elaboram emoções e nos ajudam a dar sentido ao que sentimos. A literatura é um instrumento de cura acessível, presente em todos os lugares, com o poder de nos transportar para outras realidades e experiências.
O verbo, nesse contexto, é mais que linguagem: é medicina. Ele nos permite esquecer o mundo por instantes, viver outras vidas e, ao acompanhar dores alheias, descobrir caminhos para tratar as nossas. O autor, ao escrever sobre sua dor, busca consolo e oferece consolo.
A escrita torna-se sua terapia. No silêncio da solidão criativa, o autor encontra equilíbrio. A palavra escrita é sua forma de resistência, seu modo de curar-se, de não sucumbir. Essa é a sua proteção. Essa é a sua cura: o verbo.
*Sabrina Gomes é advogada especialista em Processo Civil pela PUC – RJ. Após uma trajetória marcada por desafios e perdas, escreveu o livro “Não zere a vida”
