Constelação Potiguar

WhatsApp
Facebook
X
Threads
Telegram
Constelação de nanossatélites terá visada para todo o Nordeste e ao longo da Linha do Equador – Arte: ChatGPT

Projeto vai colocar o RN na órbita da inovação espacial

Paiva Rebouças – Sala de Ciência-Agecom/UFRN

Imagine olhar para o céu e saber que, a 600 quilômetros acima da sua cabeça, um pequeno cubo de 30 centímetros cúbicos está vasculhando o território em busca de respostas: a situação das bacias hidrográficas, onde estão os cardumes mais promissores para a pesca, como o clima anda afetando a agricultura e até o que se esconde debaixo da terra na chamada margem equatorial brasileira. Dizendo assim, parece enredo de filme de ficção científica, mas, por sorte, não é. Essa é a proposta da Constelação Potiguar, um projeto que coloca o RN na rota dos satélites e o Nordeste na mira de uma nova economia espacial.

Essa ideia vem ganhando forma por meio de um consórcio liderado pelo Parque Científico e Tecnológico Augusto Severo (PAX-RN), que reúne universidades — entre elas, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) —, centros de pesquisa, instituições públicas e representantes da indústria. Juntos, trabalham com um objetivo claro: lançar uma rede de nanossatélites que vai operar de forma integrada na órbita equatorial, ampliando a cobertura sobre o Nordeste e indo ainda mais longe.

O nanossatélite abriga sensores, circuitos, transmissores e antenas. Ao orbitar a Terra, estabelece uma rede de dados que pode ser acessada por centros de pesquisa, empresas e órgãos públicos. A altitude de sua localização permite uma visada ampla, cobrindo toda a região Nordeste, podendo ainda coletar dados de outros pontos ao longo da Linha do Equador, com potencial de integração em redes internacionais.

Proposta coloca o RN na rota dos satélites e o Nordeste na mira de uma nova economia espacial – Arte: ChatGPT

Pensada para operar como infraestrutura científica, econômica, ambiental, de gestão e prevenção de desastres naturais e de segurança pública, a constelação pode fornecer dados para o monitoramento climático, ambiental, agrícola e até logístico. Os dados produzidos também serão estratégicos para a chamada Economia do Mar, setor que vem crescendo no Brasil e que ganha força com o Cluster Tecnológico Naval do RN, coordenado pela FIERN, que já está em diálogo com a Constelação Potiguar.

À frente dessa proposta está Olavo Bueno, diretor do PAX-RN, engenheiro que atuou por 10 anos no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e integrou a equipe que construiu os primeiros satélites brasileiros, o SCD-1 e o SCD-2. O projeto da Constelação Potiguar vai aproveitar a base estrutural já testada no INPE e na única constelação de nanossatélites lançada no Brasil, em Santa Catarina, embora oferecendo atualizações e melhorias feitas a partir da experiência acumulada pela equipe envolvida. “Estamos retomando uma tecnologia que é nossa, nacional, e adaptando-a a novos desafios, com um olhar voltado para o desenvolvimento regional”, afirma Olavo Bueno.

O professor Douglas do Nascimento Silva, diretor da Escola de Ciência e Tecnologia (ECT/UFRN), é um dos cientistas envolvidos na realização desse projeto. De acordo com o pesquisador, a UFRN participa ativamente na pesquisa e na montagem dos nanossatélites, contando com o suporte do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Aeroespacial (PPGEA/UFRN). “Além de fortalecer a ciência e a inovação, a iniciativa pretende viabilizar a produção local desses sistemas, reduzindo a dependência de equipamentos importados e impulsionando a criação de startups na área”, reforça.

Projeto é coordenado pelo PAX-RN

A expectativa, ainda segundo Douglas, é que o Rio Grande do Norte se torne um polo de desenvolvimento tecnológico, onde dados gerados pelos satélites possam ser trabalhados por instituições brasileiras, evitando que fiquem restritos a empresas estrangeiras. “O potencial energético da região também é visto como um fator estratégico para integrar e expandir essa nova economia espacial”, completa Douglas.

E por que realizar isso no RN?

A resposta está na geografia e na infraestrutura. O estado possui uma posição privilegiada, próximo à linha do Equador, o que torna os lançamentos mais eficientes. Além disso, abriga o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), que tem potencial, a partir desse projeto, de se tornar uma nova base de lançamento de satélites no país.

O Centro de Lançamento da Barreira do Inferno é estratégico para o projeto – Foto: Ascom/FAB

O Rio Grande do Norte conta ainda com um ecossistema emergente de inovação, reunindo universidades públicas (UFRN, UFERSA, UERN, IFRN), a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (EMPARN), o setor industrial articulado pela FIERN e órgãos estratégicos, como a Marinha e a Defesa Civil. A presença do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), com uma base instalada no campus central da UFRN, e da Agência Espacial Brasileira (AEB) reforça esse ambiente dinâmico.

A partir das articulações do PAX, essas instituições formam um consórcio raro, onde ciência, tecnologia e Estado convergem para impulsionar o desenvolvimento espacial e tecnológico do país. Do ponto de vista tecnológico, a proposta é ambiciosa – e não apenas pela capacidade de lançar satélites. Ela prevê o fortalecimento de um cluster aeroespacial no Rio Grande do Norte, capaz de fomentar startups, atrair empresas do setor, gerar empregos qualificados e estimular a formação de novos profissionais. “Queremos gerar impacto aqui, com dados que sirvam à pesquisa, mas também ao desenvolvimento de soluções concretas para os desafios do semiárido, da costa e das cidades”, reforça Olavo Bueno.

Investimento

A estimativa é que o investimento total alcance R$ 36 milhões em seis anos, com recursos provenientes de fontes públicas e privadas, nacionais e internacionais. Já existem parcerias em andamento com empresas estrangeiras especializadas em nanossatélites, e alguns contratos dependem apenas da finalização do Procedimento para Seleção e Adoção de Missões Espaciais (ProSAME), conduzido pela Agência Espacial Brasileira (AEB). A previsão é que esse processo seja concluído até o segundo semestre de 2025, permitindo que o primeiro satélite seja lançado em até dois anos.

Mas, antes de ir para o espaço, o projeto precisa ganhar forma aqui na Terra. Por isso, nos dias 29 e 30 de maio, acontece o 1º Workshop da Constelação Potiguar, evento que marca oficialmente o início da fase operacional do projeto. O encontro reunirá especialistas, gestores, empresas e pesquisadores para discutir desafios e consolidar as próximas etapas. Mais do que um lançamento técnico, o workshop representa um marco simbólico: o momento em que a iniciativa deixa o papel e começa a orbitar as agendas de inovação do país.

A constelação ainda está no papel, mas já lança luz sobre o futuro da ciência brasileira. E, desta vez, com um detalhe importante: o protagonismo vem do Nordeste. LEIA NO PORTAL UFRN

WhatsApp
Facebook
X
Threads
Telegram