Por José Rebouças
Até a década de 1980, imaginava-se que, na cegueira, as partes visuais do córtex cerebral se tornariam inertes. Isso porque as principais áreas sensoriais do córtex cerebral foram exclusivamente associadas ao processamento de uma única modalidade sensorial. Estudos posteriores, no entanto, desconstruíram essa ideia ao provar a existência de atividade neural em áreas que se acreditavam desativadas.
O que não se sabia, até agora, era por quanto tempo estas alterações persistem e se provocam modificações de longo prazo, conhecidas pelo termo “plasticidade neural”. Mas um novo estudo desenvolvido por pesquisadores do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (ICe-UFRN), em colaboração com institutos e universidades brasileiras, encontrou uma resposta para esta questão.
Os pesquisadores Sidarta Ribeiro (ICe-UFRN), Gabriella Dias-Florencio (ICe-UFRN), Sharlene Santos (ICe-UFRN), Marcos Freire – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN); Cátia Pereira – Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra (IIN-ELS); José Santos – Universidade Federal de Sergipe (UFS); Joanilson Guimarães – Universidade Federal do Pará (UFPA); e Antonio Pereira (UFPA) descobriram que a exploração não-visual induz a ativação rápida de genes relacionados com plasticidade neural no córtex visual primário de ratos, parte do cérebro que possibilita o exercício da memória visual.
Isso quer dizer que mesmo sem a visão – sem acesso à luz – o córtex visual primário continua sofrendo alterações morfológicas significativas. Com o título Exploração não Visual de objetos novos aumenta os Níveis de Fatores de Plasticidade no Córtex Visual primário de Ratos, a pesquisa, publicada na PeerJ – the Journal of Life and Environmental Sciences, confirma o aumento na quantidade de neurônios contendo proteínas codificadas por genes relacionados com plasticidade neural no córtex visual primário.
Os resultados mostram que uma experiência não-visual (basicamente tátil) – mesmo em um curto período de escuridão – estimula o córtex do visual do rato a ponto de ativar genes relacionados com a formação de memórias.
“No escuro, o córtex visual passa a processar sinais táteis como se fosse uma grade computacional (rede de computadores), que se emprestam uns aos outros para processamento quando estão sem fazer nada”, explica o neurocientista Sidarta Ribeiro, coordenador da pesquisa.
Leia aqui (em inglês) o estudo na íntegra.