Por Sérgio Ricardo Jr.
O envolvimento com pesquisas e eventos aeroespaciais há dois anos fez com que uma equipe de estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) criasse um projeto ousado para desenvolvimento de foguetes e tecnologia aeroespacial. Formada por alunos de diversos cursos, como Meteorologia, Ciência e Tecnologia, Design, Computação e as engenharias Mecânica, Elétrica e de Materiais, a equipe da Potiguar Rocket Design, projeto de extensão da UFRN criado em 2016, visa à participação em competições nacionais e internacionais, assim como a contribuição acadêmica no desenvolvimento de pesquisas no setor.
Segundo Elder Samuel Taveira, um dos criadores do projeto e estudante de Engenharia Mecânica da UFRN, a ideia inicial de construir foguetes para competições logo foi expandida com a percepção de que era necessário difundir as atividades do setor aeroespacial no Rio Grande do Norte. “Vimos que o projeto tem o potencial para ir além. A equipe pode capacitar os estudantes que participam, cada vez mais incentivar os alunos a ingressarem no setor aeroespacial e gerar um aumento nas atividades da área no Estado”, explica o estudante de engenharia.
A motivação para tanta dedicação na construção de protótipos de foguetes e também nos estudos da área aeroespacial acontece por uma tendência mundial de difusão do setor. Os estudantes que formam a Potiguar Rocket Design veem a exploração aeroespacial ser expandida em diversos países e sentem que podem contribuir nesse processo ao incluírem trabalhos e iniciativas realizadas no Brasil nesse rumo. “A exploração aeroespacial é uma realidade no mundo. Sentimos que podemos contribuir com isso. Hoje, nossa motivação é também tentar ser uma referência nacional no desenvolvimento de tecnologias que possam ser úteis para o nosso país”, revela Elder Samuel.
Tempo e dedicação são alguns dos fatores levados em conta na hora de selecionar novos membros para a equipe da Potiguar Rocket. O processo seletivo atual, que difere do modelo inicial, condicionado anteriormente à participação apenas de amigos, tornou a atuação da Potiguar Rocket muito mais profissional. Com análise de currículo, entrevista e prova, o desejo de contribuir dos candidatos que querem participar do projeto é avaliado junto com a capacidade dos alunos em agregar valor técnico ao conjunto que forma a equipe.
Apoio da UFRN
Os alunos do projeto de extensão contam com o apoio do orientador George Santos Marinho, professor do Departamento de Engenharia Mecânica da UFRN, além de outros docentes e técnicos, que auxiliam os estudantes na construção dos protótipos de foguetes e em outras atividades, como a fabricação de bancadas de testes estáticos e bases para lançamentos, além da oferta de minicursos para a comunidade acadêmica. “Ter sido convidado a integrar o Potiguar Rocket Design foi uma honra. O trabalho proporciona oportunidades de ampliação de conhecimentos, pois o professor também aprende com os alunos”, conta George Marinho.
De acordo com a análise do professor, a atividade dos alunos como equipe tem muita importância no sucesso do projeto. “Trata-se de uma chance preciosa para eles simularem a atuação no campo profissional. A essência do projeto está no trabalho em grupo, pois eles aprendem entre si a respeitar opiniões e a melhor argumentar enquanto buscam decisões para solucionar problemas. Além disso, apresentar trabalhos em congressos científicos, participar de competições acadêmicas e representar a UFRN em reuniões em outras instituições, como o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), aumenta a responsabilidade deles e, consequentemente, agrega maturidade”, explica o orientador da equipe.
Mescla de conhecimentos
A Potiguar Rocket Design tem sido uma oportunidade para alunos desenvolverem atividades nas áreas de sua formação, assim como em áreas alternativas, como é o caso de Elida Oliveira. “Como estudante de meteorologia, ajudamos o projeto em partes como a aerodinâmica. Coletamos dados atmosféricos e utilizamos alguns aparelhos para criar simulações, que se aproximem ao máximo do real, observando assim possíveis erros de trajetória dos foguetes. Estou há seis meses no projeto e tenho aprendido um pouco de tudo, não tenho ficado somente limitada à minha área”, conta a estudante.
Histórico em competições
Competir foi uma das motivação para criação da Potiguar Rocket Design. Mesmo sendo uma equipe recente, com pouco mais de dois anos de existência, o histórico aponta participações em eventos como a Competição Brasileira Universitária de Foguetes (COBRUF) e o V Festival Brasileiro de Minifoguetes, que aconteceu em Curitiba, neste ano. Na ocasião, a equipe conseguiu conquistar o seu primeiro troféu, alcançado na categoria de lançamento de 100 metros.
Futuro do projeto
Um dos próximos passos é melhorar a criação e a produção atual. Nos próximos meses, os estudantes preveem iniciar os testes de um modelo de foguete de maior potência, que será estrategicamente testado no Campus da Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ) da UFRN, em Macaíba. “O projeto atual que estamos desenvolvendo é para um foguete com apogeu de 1 km. Ele tem um motor classe J, específico para essa latitude, e previsão de lançamento para agosto. A ideia é desenvolver outro motor, posteriormente, com apogeu de 3 km, e levar essas duas variações para as próximas competições”, conta Elder Samuel Taveira.
Outro plano do grupo é desenvolver motores híbridos, que possibilitam um maior controle das ações, por meio da utilização de oxidantes na regulagem da taxa de queima de combustível. Além disso, o projeto de extensão também se planeja para cada vez mais ampliar o leque de produção de produtos ligados a tecnologias aeroespaciais como o desenvolvimento de drones e cubesats – um tipo de satélite.
Os resultados expressivos fazem com que a equipe da Potiguar Rocket Design sonhe alto. “Com um espaço físico maior para trabalhar, mais recurso financeiro e apoio, nós podemos construir foguetes com apogeus de 10 ou 20 km. Imaginem quantos estudantes poderiam estar envolvidos nisso? Quanta tecnologia estaria sendo desenvolvida aqui na UFRN? Quantos trabalhos de graduação e pesquisas de pós-graduação poderiam ser feitos? Fora isso, temos o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno que é referência mundial. Isso apenas confirma a vocação aeroespacial do nosso Estado”, explica o estudante de engenharia.
As atividades da Potiguar Rocket Design podem ser acompanhadas nas redes sociais, no Instagram @potiguarrocket e na página do facebook Potiguar Rocket Design.