Setor privado e organizações filantrópicas, em parceria com o Fundo de População da ONU, firmam aliança em prol da saúde sexual, reprodutiva e direitos e colocam jovens mulheres no centro do debate
O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) entende que, para reduzir as desigualdades, o desenvolvimento das nações deve ser pensado a partir de uma perspectiva sustentável, com base na igualdade, inclusão e exercício universal dos direitos e que outros fatores sejam considerados nessa discussão para além das disparidades econômicas, entre eles, o planejamento reprodutivo, a igualdade de gênero e o empoderamento feminino. Sem considerá-los, nações inteiras seguirão perpetuando um círculo vicioso de pobreza, onde mulheres e meninas, que são as mais pobres entre os pobres, seguirão sendo deixadas para trás em um mundo que segue avançando de forma extremamente desigual.
O enfrentamento dessa realidade e a construção de um ambiente favorável para o desenvolvimento das nações passa por estabelecer parcerias multissetoriais que mobilizem e compartilhem conhecimento, expertise, tecnologia e recursos financeiros, para apoiar o alcance dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) em todos os países.
Por isso, no Brasil, o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), Bayer, MSD, Reckitt Benckiser, Semina e o Instituto Ethos, com o apoio da Embaixada dos Países Baixos, se reuniram em torno da Aliança pela saúde e pelos direitos sexuais e reprodutivos, que tem por objetivo a promoção da saúde e garantia dos direitos sexuais e reprodutivos, com atenção especial para mulheres e jovens – Objetivos 3, 5 e 17 dos ODSs.
Com informação, acesso à educação e saúde, incluindo saúde sexual e reprodutiva e autonomia, pessoas jovens poderão iniciar um ciclo de prosperidade para si próprias, para suas comunidades e para gerações futuras, revertendo assim a situação atual.
A primeira grande ação da Aliança é a campanha Ela Decide Seu Presente e Seu Futuro, de promoção do empoderamento e dos direitos das mulheres e jovens para que obtenham informação de qualidade e possam tomar decisões autônomas sobre sua vida sexual e reprodutiva.
Saúde sexual e reprodutiva no Brasil
Para além do planejamento reprodutivo (quando e como ter ou não ter filhos), a saúde sexual das pessoas jovens tem se mostrado como um fator preocupante para o desenvolvimento sustentável do Brasil. Há uma queda no uso de preservativos, em especial entre adolescentes e jovens, como principal forma de proteção contra as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). Uma das consequências é o aumento nos casos de infecções como HIV e sífilis, inclusive durante a primeira relação sexual. A não utilização de métodos contraceptivos ou a automedicação também precisam ser observados, uma vez que as gestações não intencionais ainda são uma dura realidade para o país.
Os dados revelam que:
- Aproximadamente 30% das mulheres que deram à luz em hospitais selecionados pela Pesquisa Nascer no Brasil, da Fiocruz, disseram que não planejaram a gestação atual
- A gravidez não planejada é uma realidade para mulheres jovens e adolescentes negras e com status socioeconômico mais baixo: 18% dos bebês nascidos vivos são gerados por mães com menos de 19 anos de idade (Ministério da Saúde)
- A maioria das mães brasileiras com idade entre 15 e 19 anos é negra (IBGE): 7 em cada 10 mulheres nesta faixa etária com filhos são pretas ou pardas.
- Em 2007, 306 casos de infecção por HIV em pessoas entre 15 e 19 anos foram notificados, segundo o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde. Dez anos depois (2017), o número praticamente triplicou (997 casos foram notificados), o que demonstra crescimento significativo da infecção entre a população jovem.
Sugestão de porta-voz
Anna Cunha – Oficial de Programa no Fundo de População das Nações Unidas no Brasil
É mestre em Antropologia Social, foi pesquisadora por mais de 10 anos, em saúde, gênero, juventude e políticas públicas, sendo co-autora de quatro livros nessas temáticas, além de várias publicações técnicas, incluindo uma Revisão Sistemática de Literatura Nacional sobre Saúde Sexual e Reprodutiva de Adolescentes (UNFPA, 2012). Desde 2013, vem implementando no UNFPA ações programáticas nesse campo e atualmente responde pelas áreas de Juventude e Adolescência e de Monitoramento e Avaliação (M&A) no UNFPA. Atua também na coordenação do Grupo Assessor Interagencial sobre Juventude do Sistema ONU Brasil.