ERA de se ver e de se sentir nas pipinadas do cérebro os horrores das dores que o povo daqueles tempos sentia sem pestanejar. Devido ao fato de que a pobreza pouco se afoitava sem posses de assubir num jegue de plantão e nem tão mesmo na besta-fera de rodas que começava a perambular pelas veredas sertanejas daqueles tempos idos.
Eram dores que chega latejavam nos miolos da chapuleta e deixava tão irado o sujeito ou a sujeita que podia-se ouvir sem maiores delongas uns chamados de nomes feios como, sendo os mais triviais. A dor era tanta que se o zombador zombasse por um tiquim de nada podia sofrer a perfuração de uma peixeira de tantas polegadas entrando no bucho e rasgando a carne do fi-duma-égua que mangasse do acontecido.
Dizia-se lá pelos Canudos que o sertanejo era antes de tudo um forte, o que dado ao acontecido fazia valer o ditado, mas engana-se que ainda nos zói do caboco sentidor num lacrimejava uma gota dos agrúrios do juízo. Mas era um choro mais para lascar a bexiga taboca do que para frescar choriscos de curumim.
Tais dores sentidas eram lavadas ora por um calo que se formava ora por uns arrancamentos de couro que avoava em derredor e sangrava pelo impacto de uma chamada TOPADA. A topada era uma ação involuntária que provocava uma reação voluntária do ser não vivo contra um vivo. Era a ação do ser imóvel na inveja contrária ao ser móvel. Mas que nunca levava-se em conta que o culpado ou a culpada sempre era um arremedo de gente.
Acontecia, pois que dado caboco ou caboca quando saía para zamzar pelas veredas do sertão eram rotineiramente levados ao confronto dos pedregulhos que se espichavam no camim e ficavam a tal ponto que parecia que armavam uma tocaia para pegar o mardito ou a mardita. A chuva, os animais, as carruagens e os comboios sempre eram os autores desses tipos de crimes contra a boa fé do povo seridoense. De modo que deixavam as veredas nordestinas sempre inóspitas ao tráfego do sertanejo, principalmente o seridoense.
E era tão inóspita que fazia a cabocada calçar botas e ficar de butuca ligada para não cair nas armadilhas do camim e sofrer com dor e tudo uma topada cruel. Por isso era mais fácil andar nos lombos de jegues, burros ou cavalos, do que nos solados das apragatas dos pés. Mas quando não se podia andar escanchado num animá era trivial que se calçasse uma chinela de couro curtido pra evitar as espinhadas e as tão danadas topadas do Seridó.
E me parece que as topadas do Seridó doíam mais do que as topadas de outros cantos, pois o pedregulhoso chão facilitava a ocorrência desse ato involuntário. E parece que quem sofria mais com as topadas eram os pobres. Por isso que o ditado logo emergiu como lei: o pobre só vai pra frente com uma topada ou um empurrão.
AUTOR: EDNALDO LUÍZ DOS SANTOS. BLOG: www.poetaluiz.blogspot.com