Portugal certamente sabe bem a história de vida e amor de Lídia Gonzalez Mendes, uma pessoa fascinante que conheci em 2015 festejando o Dia de Santo Antônio em sua bela casa de Santarém. Foi uma noite inesquecível, pois além da sua devoção estava presente a sua paixão pelo Fado, que sintonizou com a minha paixão por este gênero musical e nos fez reviver inúmeras canções portuguesas ao lado de muitos amigos.
O caminho de Santarém já nos atraía muito, pela beleza do seu céu azul de nuvens brancas cintilantes que emolduravam a paisagem com exuberantes plantações de girassóis. Além do que, antes da chegada passamos pelo Bairro D. Constança, que me trouxe forte recordação da minha avó, de quem lembramos também nas visitas que fizemos ao lago alemão de Konstanz. Tudo em meio àquelas árvores milenares.
Fomos levados a sua casa pela nossa amiga comum Carolina David, que nos apoia imensamente nas nossas viagens a Portugal. Era uma noite de alguma chuva que, no entanto não atrapalhou o festejo ao ar livre no arraial disposto na antiga construção. Passado o imponente portão, a vista corria curiosamente pelas belas flores, utensílios e imagens dispostas para animar a festa. E uma decoração bem portuguesa, que nos trazia assim mais emoção, pela genuinidade.
Ouvimos as músicas próprias da época, participamos das brincadeiras e das surpresas dirigidas pela bela jovem Mafalda, filha do radialista Mário Rui e recebemos imensa atenção da amiga Pompéia, filha de Lídia, bem como de tantos outros patrícios que festejavam a data. Graça desejou tanto um dos brindes que comprou todas as fichas possíveis e não foi sorteada, mas findou recebendo-o de presente: uma bela caixa decorada com anjos.
A Festa de Santo Antônio na casa de Lídia teve, naturalmente, fartos pratos típicos que reforçaram nossa ideia sobre a culinária portuguesa, além das bebidas próprias da época. Para cada um deles, uma boa carga de informações e explicações dos portugueses de todas as idades para Graça, que tem contato com esses tipos de prato há muito tempo. Por conta disso, inclusive, lembremos que há alguns anos ela me livrou de pequeno apuro numa cafeteria, explicando-me o que é chávena.
Naquela noite falamos sobre fados e fadistas, descobrindo nosso gosto comum por cantores e cantoras, bem como pelos melhores fados. Lídia demonstrou fortes emoções ao falar sobre as noites de fado, as casas de fado e as histórias que os fadistas contam todo dia em Portugal. Ela revelou até a sua preferência pela fadista Ana Moura diante de outras que concorrem no imaginário público ao posto inatingível de sucessora de Amália Rodrigues.
Tivéssemos tempo pela frente, ouviríamos muitos fados ao vivo. Mas tivemos de voltar e seguir nosso passeio, deixando naquele lugar inesquecível aquela mulher que tanto amor demonstrou pela música da sua terra. E pensamos em reencontro, para ouvir em belas vozes coisas como “Tudo isto é fado”, “Foi Deus”, “Ai Mouraria”, “Uma casa portuguesa, com certeza”, “Recado a Lisboa”, “Canoas do Tejo”, “Havemos de ir a Viana”, “Lembranças”, “Lisboa antiga”, “Gaivotas”, “Coimbra” e “Barco Negro”, entre tantos outros.
Agora sabemos que não iremos mais aos fados com Lídia. Ela partiu para uma nova vida. Que tenha muita paz nessa sua nova morada. E que por cá façamos um fado para ela.