Uma das principais reuniões da 28ª Conferência das Partes (COP-28), que acontece em Dubai até o dia 12 de dezembro, trouxe à tona questões cruciais relacionadas à preservação da Caatinga, um dos biomas mais importantes do Brasil e que abrange grande parte da Bahia.
Ao lado do governador do estado, Jerônimo Rodrigues (PT), o deputado federal Bacelar (PV/BA) afirmou, nesta segunda-feira (4), que durante os debates ficou evidente que a caatinga brasileira enfrenta não apenas desafios ambientais, mas também preconceitos que afetam sua conservação.
“O preconceito muitas vezes se manifesta na forma de estereótipos negativos associados à região, como a ideia errada de que a Caatinga é uma paisagem árida e sem valor ecológico. Este é um ecossistema diverso e resiliente que merece nosso respeito e proteção. Precisamos superar os preconceitos que impedem uma compreensão mais profunda e justa desse bioma”, enfatizou Bacelar, que participou ativamente das discussões.
Na avaliação de Bacelar, a proposta de se criar um Fundo da Caatinga é um marco importante na conscientização sobre os desafios enfrentados pelo bioma, não apenas em termos ambientais, mas também em relação às percepções equivocadas que afetam sua preservação.
Entre as medidas discutidas estão investimentos em pesquisa científica, educação ambiental e a promoção de práticas de conservação sustentáveis, levando em consideração as comunidades locais. Para ele, o compromisso global e do estado da Bahia para enfrentar esses problemas oferece esperança para um futuro mais sustentável e inclusivo para a Caatinga e suas comunidades.
O parlamentar enalteceu ainda a atuação do governador ao afirmar que “Jerônimo não apenas demonstrou um compromisso com as questões ambientais, mas também se destacou por sua abordagem visionária e propositiva para enfrentar os desafios enfrentados pela Caatinga. Em suas intervenções, ele ressaltou a necessidade de uma abordagem que vá além da preservação ambiental, incluindo também o combate aos estigmas sociais associados à região” completou.
Sammara Bezerra – Agecom/ UFRN
Foto: Valdi Lima Júnior
Com os olhos voltados para a Caatinga, o professor da Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ) Valdi Lima Júnior desenvolve pesquisas na área da Zootecnia. O foco de um estudo recente é os caprinos, animais que podem compor a fauna do bioma brasileiro. Em 2024, o pesquisador zootecnista apresenta a pesquisa no 13° Congresso Mundial de Genética e Biotecnologia, que acontece em Nagoya, no Japão. Leia mais.
Transformar uma pesquisa acadêmica em poesia é, de fato, um desafio. Com o objetivo de adentrar e apresentar a biodiversidade do Sertão árido do Nordeste brasileiro, o estudante de doutorado em Ecologia (PPGEco/UFRN), Jaqueiuto Jorge, lançou o e-book O lamento dos sertões: ode à conservação da Caatinga. No livro, Jaqueiuto convida o leitor a uma jornada profunda e reflexiva pelo sertão potiguar. Leia mais.
Localizada na região Nordeste, a Caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro, com biodiversidade adaptada às altas temperaturas e à falta de água, apresentando flora e fauna específicas. Por suas características, é indispensável educar no sentido da sustentabilidade desse bioma e do manejo adequado das matrizes antrópicas. Nesse contexto, entre os dias 23 e 25 de setembro, o Programa de Pós-Graduação em Sistemática e Evolução (PPgSE/UFRN) realizou o 1° Curso de Formação de Coletores de Sementes e Parataxonomistas, um treinamento direcionado a produtores que atuam na Caatinga. Leia mais.
Caatinga possui grande riqueza de ambientes e espécies símbolos do Brasil
Estrada com vegetação típica da Caatinga na região Nordeste. Foto: Pixabay / Divulgação
Ameaçado de extinção, o tatu-bola-do-nordeste é uma das espécies endêmicas do bioma que engloba 10 estados brasileiros
Caatinga perdeu mais de 10% de vegetação nativa nos últimos 37 anos e quase 17% da água
Considerado o bioma menos conhecido do Brasil, devido à menor quantidade de estudos científicos e coleta de amostras, a Caatinga possui grande riqueza de ambientes e espécies, tratando-se do conjunto de ecossistemas semi-áridos mais biodiverso do mundo. O bioma ocupa pouco mais de 11% do território nacional, onde vivem 27 milhões de pessoas, englobando 10 estados: Alagoas, Bahia, Ceará, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe, além do extremo leste do Maranhão e do norte de Minas Gerais.
Rica em biodiversidade, a Caatinga é um bioma 100% brasileiro que abriga cerca de 4 mil espécies de plantas, de acordo com a publicação Flora do Brasil (2021), coordenada pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Destas, cerca de 30% encontram-se sob alguma categoria de ameaça de extinção. Com relação às espécies da fauna, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) estima que das 1.182 espécies catalogadas, 125 encontram-se em alguma categoria de ameaça de extinção.
A médica veterinária Flávia Miranda, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), explica que o combate à desertificação, processo de degradação ambiental que ocorre em áreas áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas, agravado por queimadas e desmatamento, com a retirada da vegetação nativa para a expansão de atividades agrícolas e pecuárias, colocam a biodiversidade em risco no bioma.
“Todo esse cenário provoca a perda de habitat para diversas espécies. É importante lembrar que a fauna da Caatinga é muito rica e interessante, com espécies endêmicas que são símbolo do nosso país, como o tatu-bola-do-nordeste (Tolypeutes tricinctus), além de répteis, aves e roedores”, frisa a pesquisadora. “O tatu-bola, espécie ameaçada de extinção, ocorre sobretudo na Caatinga, além de um pedacinho do Cerrado”, salienta a especialista, referindo-se ao animal escolhido como mascote da Copa do Mundo de Futebol de 2014.
A União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) e o ICMBio colocam o tatu-bola-do-nordeste como espécie ameaçada de extinção, com estado de conservação vulnerável.
Miranda, que é coordenadora científica do Programa de Conservação do Tatu-Bola pela Associação Caatinga, defende o fortalecimento de unidades de conservação para frear a perda de habitat dos animais. O Parque Estadual do Cânion do Rio Poti, criado em 2017 e localizado no município de Buriti dos Montes (PI), é um exemplo desta atuação responsável. Além de manter condições adequadas para a proteção do tatu-bola, entre outras espécies, o parque possui cenários de grande beleza cênica e abriga sítios de gravuras rupestres consideradas de grande relevância antropológica.
Ameaças
Segundo levantamento realizado em 2022 pelo MapBiomas a partir da análise de imagens de satélite, a redução de áreas naturais na Caatinga superou os 6 milhões de hectares nos últimos 37 anos, representando 10,54% da área mapeada desde 1985. Neste período, a Caatinga perdeu mais de 160 mil hectares de superfície de água – um decréscimo de 16,75%. Com exceção de Sergipe, todos os estados da Caatinga tiveram redução de superfície de água.
De acordo com o Ministério de Meio Ambiente e Mudança do Clima, cerca de 9% do bioma está coberto por unidades de conservação, sendo pouco mais de 2% por unidades de proteção integral (Parques, Reservas Biológicas e Estações Ecológicas), que são as mais restritas a atividades humanas.
Sobre a Rede de Especialistas
A Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) reúne cerca de 80 profissionais de todas as regiões do Brasil e alguns do exterior que trazem ao trabalho que desenvolvem a importância da conservação da natureza e da proteção da biodiversidade. São juristas, urbanistas, biólogos, engenheiros, ambientalistas, cientistas, professores universitários – de referência nacional e internacional – que se voluntariaram para serem porta-vozes da natureza, dando entrevistas, trazendo novas perspectivas, gerando conteúdo e enriquecendo informações de reportagens das mais diversas editorias. Criada em 2014, a Rede é uma iniciativa da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Os pronunciamentos e artigos dos membros da Rede refletem exclusivamente a opinião dos respectivos autores. Acesse o Guia de Fontes em www.fundacaogrupoboticario.org.br
OPORTUNIDADE, JORNALISTA! Estão abertas as inscrições da 3ª edição do Edital Conexão Oceano de Comunicação Ambiental, uma iniciativa da Fundação Grupo Boticário em parceria com a Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI) da UNESCO. São 5 bolsas-reportagem de R$ 10 mil cada para viabilizar projetos jornalísticos sobre a atuação brasileira em relação a compromissos globais voltados à proteção do oceano. As inscrições seguem até 30/04/23 via formulário online.
Pesquisa mostra impacto humano na redução da diversidade genética da Caatinga
LabGeM e Agecom/UFRN
Fotos: Fábio Vieira – UFRN
Estudo indica a necessidade urgente de um manejo adequado da jurema-preta
A exploração madeireira é uma das principais responsáveis pela alteração na composição da vegetação, podendo causar, a longo prazo, problemas maiores, como desertificação, desconfiguração de habitat ou extinção de espécies. Nesse cenário, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) têm avaliado, nos últimos anos, ameaças à diversidade genética de espécies arbóreas com importância econômica, mas superexploradas nas florestas nativas. Entre elas está a Mimosa tenuiflora, conhecida popularmente como jurema-preta, árvore nativa do Brasil e de ocorrência natural em áreas de Caatinga.
Pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais (PPGCFL) da Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ/UFRN), com apoio do Laboratório de Genética e Melhoramento Florestal (LabGeM), avaliou a diversidade genética em 15 populações naturais dessa espécie nativa distribuídas pelo estado do Rio Grande do Norte. O trabalho, fruto da dissertação de Kyvia Pontes Teixeira das Chagas, publicado na revista Genetic Resources and Crop Evolution, observou que todas as populações apresentaram baixos valores de diversidade genética, além de decréscimos populacionais significativos.
Cientista durante coleta de material
Os resultados da pesquisa indicam a necessidade urgente de um manejo adequado da jurema-preta associado a estratégias eficientes de conservação. De acordo com Kyvia, uma alternativa é a domesticação e implantação de florestas plantadas, visando minimizar a pressão de utilização de populações naturais e atender a demanda por produtos. “Além disso, por se tratar de uma espécie com propriedades medicinais, sugere-se o desenvolvimento de pesquisas voltadas para esse potencial e suas aplicações, o que pode facilitar a realização de mais estudos com finalidades conservacionistas”, explica.
Entre os objetivos dos pesquisadores estava sugerir áreas prioritárias para conservação e verificar se há ocorrência de gargalos genéticos populacionais. Isso porque, na região Nordeste, a atividade antrópica ocorre principalmente em áreas de Caatinga visando à extração e produção de lenha para consumo. Esta prática caracteriza o “corte raso” de um grande volume de espécies nativas, ou seja, supressão da vegetação por meio do corte de árvores rente ao solo, prática ilegal quando feita sem autorização dos órgãos ambientais.
OLYMPUS DIGITAL CAMERA Amostras de jurema-preta coletadas para análise
A jurema-preta possui alto potencial econômico e ecológico, principalmente para fabricação de cercas, lenha e carvão, bem como a utilização forrageira, melífera e medicinal, o que faz com que a espécie seja explorada de diversas formas e de maneira intensa em toda a região de ocorrência. Por apresentar elevado poder calorífico é, sobretudo, uma das principais fontes de abastecimento dos fornos de cerâmica vermelha.
Os pesquisadores alertam, no entanto, que os cortes rasos e as demais atividades antrópicas levam à fragmentação de áreas naturais, favorecendo o isolamento de subpopulações e reduzindo a diversidade genética. “Os indivíduos remanescentes sofrem alterações nos padrões de fluxo gênico e têm sua variabilidade e estrutura genética alteradas. Dessa forma, estudos de diversidade genética em populações florestais são necessários para compreender a distribuição da diversidade e as relações com o meio ambiente, podendo ser utilizados como base para futuras pesquisas que envolvam conservação, seleção e melhoramento de espécies”, comenta Kyvia.
Metodologia utilizada para a realização da pesquisa – Fonte: autores
De acordo com o professor Fábio Vieira, coordenador do LabGeM e orientador de Kyvia, as pesquisas realizadas no Laboratório têm como foco a conservação genética e o melhoramento das espécies florestais com relevância econômica e ecológica. O espaço de pesquisa recebe alunos de ensino médio, graduação e pós-graduação, além de pesquisadores de outras instituições. “Nossa missão é gerar informações científicas e tecnológicas na área de genética e melhoramento de espécies florestais para o Estado do Rio Grande do Norte e o Nordeste brasileiro, auxiliando na formação de novos cientistas, potenciais multiplicadores dos conhecimentos adquiridos e que possam contribuir efetivamente para a conservação, o uso sustentável e a restauração dos biomas florestais da região, especialmente no semiárido da Caatinga”, contextualiza.
Além da Kyvia, que realizou a pesquisa com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), e de seu orientador, o professor Fábio Vieira, também assinam o artigo os pesquisadores Luciana Gomes Pinheiro, Fernanda Moura Fonseca Lucas, Ageu da Silva Monteiro Freire, ex-alunos do UFRN/PPGCFL, e Cristiane Gouvêa Fajardo, bolsista do Programa Nacional de Pós-doutorado (PNPD) da Capes/PPGCFL. LEIA NO PORTAL UFRN
OLYMPUS DIGITAL CAMERA Jurema-preta (Mimosa tenuiflora) registrada na natureza
Rosimeire Cavalcante representa UFRN em atividade no Senado – Foto: Agecom/UFRN
Cecília Costa – Agecom/UFRN
Um novo olhar sobre a Caatinga: pelo fim do foco na escassez à percepção da abundância do bioma é o título da apresentação da professora de Engenharia Florestal Rosimeire Cavalcante dos Santos. A docente da Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ/UFRN) foi convidada para participar da Audiência Pública promovida pelo Senado Federal, que acontece semipresencialmente na plataforma Zoom, nesta quarta-feira, 27, em Brasília, em alusão ao Dia Nacional da Caatinga (28 de abril). Segundo Rosimeire Cavalcante, a sua maior expectativa é sensibilizar a população em geral e sugerir parcerias com o Governo Federal relacionados às atividades desenvolvidas no bioma. Leia mais.
Agência Bori/Colaboração
Foto: Carlos Roberto Fonseca – Cedida
A Organização das Nações Unidas (ONU) decretou o período 2021-2030 como a Década da Restauração dos Ecossistemas, um esforço mundial para combater as alterações climáticas, a perda de biodiversidade, a degradação dos serviços ecossistêmicos e promover a equidade. Com este propósito e com olhar para a Caatinga – um bioma exclusivamente brasileiro e rico em espécies adaptadas à seca – pesquisadores das universidades federais do Rio Grande do Norte (UFRN) e do ABC (UFABC) e da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com o World Resources Institute (WRI), mapearam as Áreas Prioritárias de Restauração da Caatinga. A proposta do estudo foi identificar áreas que, se restauradas, ajudem na recuperação de espécies de plantas atualmente ameaçadas de extinção e permitam que estas e outras espécies se adaptem às mudanças climáticas esperadas para o bioma. Leia mais.
O fotógrafo caicoense, Alfredo Santana, tem tirado o seu tempo livre para fotografar parte da fauna e da flora da Caatinga nos arredores de sua cidade, Caicó. A maioria de suas fotos tem sido de pássaros e plantas.
Muitos acham que a Caatinga é pobre em biodiversidade. Muito pelo contrário, o bioma, traz uma bela e rica fauna e flora como veremos nas fotos a partir de hoje. Com as primeiras chuvas, a paisagem se transforma após um longo período de hibernação.
Uma vez por semana iremos mostrar aqui em nosso blog algumas dessas belas fotos.
Na galeria abaixo mostramos algumas flores e frutos da Caatinga encontrados em Caicó-RN. Clique na foto para ampliá-la
Essas e outras fotos você pode encontrar no Instagram do Alfredo Santana – @alfredosantanarn ou em seu Facebookclicando aqui
Empresa engajada em promover o pensamento sustentável na moda, a Handara, referência nacional em jeanswear, assina o projeto “Handara Eco”, em parceria com a Associação Caatinga, entidade não governamental que promove a conservação das terras, florestas e águas desse bioma. Há 10 anos com a ação, parte da renda das vendas de todos os produtos Handara é destinado para a preservação direta da Reserva Natural Serra das Almas (RNSA), localizada entre os municípios de Crateús, no Ceará, e Buriti dos Montes, no Piauí.
A ação realiza, por meio da mitigação de parte das emissões de CO2, a ampliação e consolidação da proteção de florestas mediante a manutenção e melhoria na gestão de Unidades de Conservação no Estado, assim como a disseminação de campanhas de educação ambiental, preservando o desenvolvimento sustentável não apenas do bioma Caatinga, mas de todos os outros presentes no estado do Ceará.
“Buscamos trazer o menor impacto possível ao meio ambiente com a produção das peças da Handara, e umas dessas iniciativas é apoiar a Associação Caatinga, que contém profissionais que cuidam da preservação da fauna, da flora e também dos projetos socioeconômicos realizados na região, valorizando as belezas do nosso Nordeste”, explica o CEO da Handara, Lúcio Albuquerque.
Apoiada pela Handara, a Reserva Serra das Almas é mantida pela Associação Caatinga e tem o reconhecimento da Unesco por proteger uma significativa área desse bioma preservado e também promover a interação com as comunidades rurais da região. A área do espaço é de 6.300 hectares, que resguardam três nascentes, espécies que estão ameaçadas de extinção, contribuindo ainda para a manutenção de serviços ambientais e ecossistêmicos.
“A Handara tem demonstrado o seu compromisso com a causa socioambiental e apoiado as iniciativas realizadas pela Associação Caatinga, por meio de um modelo de negócio sustentável que agrega valor a sua marca e possibilita os seus consumidores a participarem diretamente da proteção do mais brasileiro dos biomas: a Caatinga. O compromisso ambiental é transcende a empresa e passa pela postura cidadã do Lúcio Albuquerque, que é entusiasta e defensor do meio ambiente, sendo inclusive proprietário de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), uma modalidade de Unidade de Conservação”, explica o coordenador geral da Associação Caatinga, Daniel Fernandes.
Referência no mercado de jeanswear, a Handara atua desde 1995 com vendas diretas e trabalhando em parceria com uma rede de consultores de moda em todo o Brasil. Genuinamente nordestina, a marca apresenta para o público um modelo de negócios pensado para gerar não apenas lucro e rentabilidade, mas principalmente conforto e estilo para o consumidor com toda a qualidade e credibilidade conquistadas pela marca em sua trajetória.
Quando chove, no início do ano, a paisagem muda muito rapidamente. As árvores cobrem-se de folhas e o solo fica forrado de pequenas plantas. A fauna volta a engordar
A palavra Caatinga, de origem tupi, significa mata branca. A razão para esta denominação reside no fato de apresentar-se a Caatinga verde somente no inverno, a época das chuvas, de curta duração. No restante do ano a Caatinga, inteiramente, ou parcialmente, sem folhas, apresenta-se clara; a vista penetra sem dificuldade até grande distância, perscrutando os caules esbranquiçados que na ausência da folhagem dão o tom claro a essa vegetação. É esse aspecto claro o que mais perdura, pois a seca persiste por muito mais tempo; em certas ocasiões pode prolongar-se por nove meses ou mais, e, em alguns casos, nada chove durante anos sucessivos (EMPRAPA, 2002).
O aspecto agressivo da vegetação contrasta com o colorido diversificado das flores emergentes no período das chuvas, cujo índice pluviométrico varia entre 500 e 800 milímetros anualmente. A temperatura média anual é de 25ºC a 35ºC, forte insolação acima de 2.800 horas de luz solar, ano e elevadas taxas de evaporação e evapotranspiração.
O período seco inicia em agosto e a temperatura do solo pode chegar a 60ºC. Na longa estiagem, os sertões são, muitas vezes, semi-desertos e nublados, mas sem chuva. Além dessas condições climáticas rigorosas, a região das Caatingas está submetida a ventos fortes e secos, que contribuem para a aridez da paisagem nos meses de seca (VARELA-FREIRE, 2003).
A vegetação da Caatinga adaptou-se ao clima seco para se proteger, tais como folhas transformadas em espinhos, cutículas altamente impermeáveis, caules suculentos etc. Todas essas adaptações lhes conferem um aspecto característico denominado xeromorfismo (do grego xeros, seco, e morphos, forma, aspecto).
Outras adaptações à vida das plantas nas Caatingas são a queda das folhas na estação seca e a presença de sistemas de raízes bem desenvolvidos. A perda das folhas é uma adaptação para reduzir a perda de água por transpiração. Algumas plantas armazenam água, como os cactos, outras se caracterizam por terem raízes praticamente na superfície do solo para absorver o máximo da chuva.
No meio de tanta aridez, a Caatinga surpreende com suas “ilhas de umidade” e solos férteis. São os chamados brejos, que quebram a monotonia das condições físicas e geológicas dos sertões. Nessas ilhas é possível produzir quase todos os alimentos e frutas peculiares aos trópicos do mundo. Essas áreas normalmente localizam-se próximas às serras, onde a abundância de chuvas é maior.
Quando chove, no início do ano, a paisagem muda muito rapidamente. As árvores cobrem-se de folhas e o solo fica forrado de pequenas plantas. A fauna volta a engordar. Mesmo quando chove, o solo raso e pedregoso não consegue armazenar a água que cai e a temperatura elevada provoca intensa evaporação. Por isso, somente em algumas áreas próximas às serras, onde a abundância de chuvas é maior, a agricultura se torna possível.
Cerca de 20 milhões de brasileiros vivem na região coberta pela Caatinga, em quase 800 mil km2 de área. Quando não chove, o homem do sertão e sua família precisam caminhar quilômetros em busca da água dos açudes. A irregularidade climática é um dos fatores que mais interferem na vida do sertanejo.
Texto retirado da Monografia “A flora e a fauna da Caatinga como instrumentos pedagógicos” escrita por Anselmo Santana e Francisco Pedro e orientada pelo professor Renato Rocha da UFRN/Ceres?Campus Caicó
Fazendas do Vale do São Francisco conquistaram certificação nos últimos meses. Tendência de crescimento se mantém para a próxima safra, afirma Imaflora
Nos últimos meses, 17 empreendimentos produtores de manga da região do Vale do São Francisco conquistaram a certificação socioambiental Rainforest Alliance™. Foram os primeiros casos de certificação socioambiental da fruta no Brasil. E a tendência de crescimento se mantém: a velocidade com que os pedidos de auditoria para novos certificados está acontecendo indica que o mercado ainda tem muito fôlego.
O movimento é explicado pela demanda dos compradores alemães de frutas in natura pelo selo que atesta o cumprimento da norma, que prevê requisitos sociais e ambientais, como não desmatar, comprovar que a gestão ambiental do empreendimento assegura a biodiversidade local, que a água e o solo serão conservados e livres de contaminação, que as águas residuais e o lixo foram descartados corretamente e que o empreendimento fornece condições de saúde e segurança para os trabalhadores.
O Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola), organização não governamental, brasileira, responsável pela aplicação das normas da Rainforest Alliance™ em campo, auditou as fazendas e chama a atenção para dois pontos em especial: o alerta para desmatamento na caatinga e a melhoria das condições de trabalho. “Os empreendimentos estão avaliando as áreas de expansão para suas atividades com olhar voltado para evitar o desmate”, diz Tharic Galuchi, coordenador de certificação agrícola do Imaflora.
Ele lembra que o cultivo da manga emprega um número grande de trabalhadores, já que a colheita não é mecanizável. No caso dos 17 novos empreendimentos certificados, são mais de seis mil trabalhadores sob influência da certificação. “Os requisitos sociais preveem a aplicação de normas rígidas sobre segurança no trabalho, acesso à saúde, a jornadas limitadas de trabalho, registro em carteira e benefícios à família do trabalhador, inclusive quando são temporários”, lembra Tharic.
Ao todo, a certificação dos empreendimentos de manga abrange mais de 9 mil e 800 hectares do semiárido brasileiro. O Imaflora é responsável pela certificação de 2 mil e 300 hectares e, com a entrada dos 17 empreendimentos, a certificação Rainforest Alliance™ estende-se a 37 mil e 300 hectares e a 10 mil trabalhadores diretos, que cultivam mamão, melão, melancia, maracujá, banana, uva e manga.
Sobre o Imaflora
O Imaflora é uma Organização Não Governamental, sem fins lucrativos, que trabalha para promover a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais e para gerar benefícios sociais nos setores florestal e agropecuário. Com atuação nacional e participação em fóruns internacionais, foi fundado em 1995 e tem sede em Piracicaba, interior de São Paulo. Saiba mais em www.imaflora.org
“Ele vê a seca, o mato que deveria ser verde tudo queimado. Os rios, ao invés de água, tem areia quente em seu leito. Suas nascentes mortas consumidas”, escreve Graciliano Ramos em “Vidas Secas”, narrando um cenário típico da Caatinga, bioma exclusivamente brasileiro que ocupa cerca de 10% do território nacional, predominantemente no Nordeste.
A palavra caatinga tem origem tupi-guarani e significa “mata branca”, com referência à cor prevalente da sua vegetação durante a estação seca, quando as plantas perdem as folhas e só voltam a ficar verdes no inverno, devido à chuva – fenômeno descrito por Luiz Gonzaga e Zé Dantas, na canção o “Xote das meninas”: “Mandacaru, quando fulora na seca é um sinal que a chuva chega no sertão”.
Apesar de o bioma ser um patrimônio valioso, já que contribui para a fixação do carbono da atmosfera, diminui o efeito estufa e o aquecimento global e melhora a conservação da água, do solo e da biodiversidade, a Caatinga tem sido desmatada para o consumo de lenha nativa e para a conversão dos espaços em pastagens e agricultura, segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA).
A vegetação da Caatinga é rica em espécies de plantas e animais adaptados às adversidades dos prolongados períodos secos. Nas situações de maior umidade da terra, encontram-se árvores como o juazeiro, aroeira e baraúna. Já na seca, com solo pedregoso, crescem o facheiro, mandacaru, xique-xique e macambira.
Diante de sua importância ambiental e pela falta de estudos científicos sobre o tema, surgiu no Laboratório de Farmacognosia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) o interesse em pesquisar plantas da família Fabaceae, e, neste primeiro momento, a ‘variação’ Erythrina velutina Willd, chamada popularmente de mulungu, conhecida também como canivete ou corticeira, e que apresenta propriedades calmante, expectorante, antibacteriana, entre outras aplicações medicinais.
A professora Raquel Brandt Giordani, do Departamento de Farmácia (DFAR- UFRN), iniciou suas pesquisas com plantas da Caatinga há cerca de sete anos e viu no edital público do Instituto Serrapilheira, iniciativa que visa financiar projetos de pesquisa com caráter inovador, a oportunidade de analisar as plantas da Caatinga sob suas características particulares. “O Instituto pediu uma ideia inovadora, algo que fosse fora do que normalmente é feito com produtos naturais no Brasil. Para fazer isso, a gente teve que elaborar uma pesquisa do que estava sendo tendência nas principais revistas científicas, mas, o que é tendência, costuma estar atrelado a um alto custo e ao uso de alta tecnologia. Então, por causa do auxílio financeiro do Serrapilheira, a gente vai ter acesso a tecnologias usadas lá fora há muito tempo e que são muito caras”, explica a pesquisadora.
O estudo tem como objetivo analisar os alcaloides, substância produzida pela planta por meio de aminoácidos, os quais pertencem à classe de produtos naturais produzidos pelas plantas e que parte dos medicamentos do mercado usa como princípio ativo na terapêutica de doenças. O trabalho iniciou com a coleta do mulungu, entre os municípios potiguares de Acari e Jardim do Seridó, na beira de estradas ou na margem de fazendas. Segundo o botânico do grupo de pesquisa, Alan Araújo Roque, a planta “é uma árvore de aproximadamente cinco metros de altura, com acúleos (semelhante a um espinho) bastantes característicos no caule e flores vistosas alaranjadas”, caracteriza.
A escolha desses locais se deu para que o vegetal estivesse em seu ambiente natural e com menos influência humana. Como a intenção é analisar o RNA, molécula sensível, ao coletar o material biológico foi feito o congelamento e o armazenamento em nitrogênio líquido até chegar ao laboratório da UFRN, onde aconteceu a tritura do material e a separação em sementes, caules e folhas. Em seguida, as amostras sofreram a extração de metabólicos, com enfoque nos alcaloides.
Os outros passos da análise do vegetal ocorrem em parceria com outras instituições de ensino como a Universidade de Brasília (UnB), a Universidade Estadual Paulista (UNESP), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade Federal do Semiárido (UFERSA), Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “Depois que as análises forem executadas, os resultados serão processados através da bioinformática para que possamos analisar e interpretar os dados gerando um manuscrito a ser submetido a uma revista científica até março de 2019, data que o Serrapilheira fará nova avaliação dos projetos para receber apoio por mais três anos”, conta a cientista.
Entre os resultados esperados, estão a perspectiva de contribuir para o conhecimento sobre a Caatinga, compreender como fatores de um ambiente de multiestresse se coordenam e, a longo prazo, atingir à sociedade com a descoberta de novos alcaloides a serem aplicados na indústria farmacêutica. “Por ter características tão únicas, muitas espécies são endêmicas, ou seja, não existem em nenhum outro lugar do mundo. É um ambiente excessivamente exposto a atividades econômicas que degradam a vegetação e o solo. Além disso, é um bioma pouco estudado, pouco pesquisado. Então, muitas espécies de animais e plantas correm risco de desaparecer sem nem ao menos serem conhecidos”, relata o botânico.
Já para a docente, há um trabalho longo pela frente. “Quando compreendemos como a planta produz tal molécula, e ela é de interesse da indústria, como por exemplo os alcaloides de mulungu, a biotecnologia pode ajudar a fazer melhoramento na planta para que ela possa produzir mais eficientemente aquela substância”, citando como exemplo a forma como esses vegetais resistem à seca da Caatinga. Não à toa, é a mesma que um vegetal pode ser produzido para sobreviver e ser mais resistente.
Aprovada para o financiamento do primeiro ano e com expectativa de duração de quatro anos, a pesquisa começa analisando o Mulungu, mas tem a perspectiva de investigar mais dois vegetais. Contudo, há a dependência da representatividade estatística das amostras, uma vez que é preciso coletar em cinco locais diferentes e, em cada local, no mínimo cinco plantas para que o resultado seja confiável.
A ideia é analisar as três espécies de plantas para, ao final, comparar todas elas e chegar à conclusão de como os fatores da Caatinga podem influenciar. “Portanto, a chance de sucesso é grande devido aos múltiplos estresses simultâneos que a planta sofre aqui e aos fatores que estimulam o vegetal a produzir alcaloides bioativos, resultando em informações inéditas na literatura que buscam valorizar e destacar a Caatinga internacionalmente”, planeja.
“Ele vê a seca, o mato que deveria ser verde tudo queimado. Os rios, ao invés de água, tem areia quente em seu leito. Suas nascentes mortas consumidas”, escreve Graciliano Ramos em “Vidas Secas”, narrando um cenário típico da Caatinga, bioma exclusivamente brasileiro que ocupa cerca de 10% do território nacional, predominantemente no Nordeste.
A palavra caatinga tem origem tupi-guarani e significa “mata branca”, com referência à cor prevalente da sua vegetação durante a estação seca, quando as plantas perdem as folhas e só voltam a ficar verdes no inverno, devido à chuva – fenômeno descrito por Luiz Gonzaga e Zé Dantas, na canção o “Xote das meninas”: “Mandacaru, quando fulora na seca é um sinal que a chuva chega no sertão”.
Apesar de o bioma ser um patrimônio valioso, já que contribui para a fixação do carbono da atmosfera, diminui o efeito estufa e o aquecimento global e melhora a conservação da água, do solo e da biodiversidade, a Caatinga tem sido desmatada para o consumo de lenha nativa e para a conversão dos espaços em pastagens e agricultura, segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA).
A vegetação da Caatinga é rica em espécies de plantas e animais adaptados às adversidades dos prolongados períodos secos. Nas situações de maior umidade da terra, encontram-se árvores como o juazeiro, aroeira e baraúna. Já na seca, com solo pedregoso, crescem o facheiro, mandacaru, xique-xique e macambira.
Diante de sua importância ambiental e pela falta de estudos científicos sobre o tema, surgiu no Laboratório de Farmacognosia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) o interesse em pesquisar sobre a Erythrina velutina Willd, chamada popularmente de mulungu e conhecida também como canivete ou corticeira, que apresenta propriedades calmante, expectorante, antibacteriana, entre outras aplicações medicinais.
A professora Raquel Brandt Giordani, do Departamento de Farmácia (DFARM- UFRN), iniciou suas pesquisas com plantas da Caatinga há cerca de sete anos e viu no edital público do Instituto Serrapilheira, iniciativa que visa financiar projetos de pesquisa com caráter inovador, a oportunidade de analisar o vegetal de sementes vermelhas. “O Instituto pediu uma ideia inovadora, algo que fosse fora do que normalmente é feito com produtos naturais no Brasil. Para fazer isso, a gente teve que elaborar uma pesquisa do que estava sendo tendência nas principais revistas científicas, mas, o que é tendência, costuma estar atrelado a um alto custo e ao uso de alta tecnologia. Então, por causa do auxílio financeiro do Serrapilheira, a gente vai ter acesso a tecnologias usadas lá fora há muito tempo e que são muito caras”, explica a pesquisadora.
O estudo tem como objetivo analisar os alcaloides, substância produzida pela planta por meio de aminoácidos, os quais pertencem à classe de produtos naturais produzidos pelas plantas e que parte dos medicamentos do mercado usa como princípio ativo na terapêutica de doenças. O trabalho iniciou com a coleta do mulungu, entre os municípios potiguares de Acari e Jardim do Seridó, na beira de estradas ou na margem de fazendas. Segundo o botânico do grupo de pesquisa, Alan Araújo Roque, a planta “é uma árvore de aproximadamente cinco metros de altura, com acúleos (semelhante a um espinho) bastantes característicos no caule e flores vistosas alaranjadas”, caracteriza.
A escolha desses locais se deu para que o vegetal estivesse em seu ambiente natural e com menos influência humana. Como a intenção é analisar o RNA, molécula sensível, ao coletar o material biológico foi feito o congelamento em nitrogênio líquido e o armazenamento até chegar ao laboratório da UFRN, onde aconteceu a tritura do material e a separação em semente, caule e folha. Em seguida, as amostras sofreram a extração de metabólicos, com enfoque nos alcaloides.
Os outros passos da análise do vegetal ocorrem em parceria com outras instituições de ensino como a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Estadual Paulista (UNESP). “Depois que recebermos os resultados da bioinformática, temos que analisar e interpretar esses dados e transformar em nosso trabalho com resultados. A previsão é fechar em março de 2019”, conta a cientista. Entre os resultados esperados, estão a perspectiva de contribuir para o conhecimento sobre a Caatinga, compreender como fatores de um ambiente de multiestresse se coordenam e, em longo prazo, atingir à sociedade com a descoberta de novos alcaloides a serem aplicados na indústria farmacêutica.
“Por ter características tão únicas, muitas espécies são endêmicas, ou seja, não existem em nenhum outro lugar do mundo. É um ambiente excessivamente exposto a atividades econômicas que degradam a vegetação e o solo. Além disso, é um bioma pouco estudado, pouco pesquisado. Então, muitas espécies de animais e plantas correm risco de desaparecer sem nem ao menos serem conhecidos”, relata o botânico.
Já para a docente, há um trabalho longo pela frente e a missão do grupo de pesquisa é mostrar a atividade dos alcaloides do mulungu. “Outros setores da ciência farmacêutica mostrarão as consequências. Quando a gente compreende como a planta produz tal molécula e ela é de interesse da indústria, a biotecnologia pode ajudar a fazer o melhoramento na planta para que ela possa produzir mais eficientemente a substância”, citando como exemplo a forma como esses vegetais resistem à seca da Caatinga. Não à toa, é a mesma que um vegetal pode ser produzido para sobreviver e ser mais resistente.
Aprovada para o financiamento do primeiro ano e com perspectiva de duração de quatro anos, a pesquisa começa analisando o Mulungu, mas tem a perspectiva de investigar mais dois vegetais. Contudo, há a dependência da representatividade estatística das amostras, uma vez que é preciso coletar em cinco locais diferentes e, em cada local, no mínimo cinco plantas para que o resultado seja confiável. A ideia é analisar as três plantas para, ao final, comparar todas elas e chegar à conclusão de como os fatores da Caatinga podem influenciar. “Portanto, a chance de sucesso é grande, devido aos estresses que a planta sofre aqui e aos fatores que estimulam o vegetal a produzir alcaloides, resultando em informações inéditas na literatura”, planeja.
Na terra sertaneja castigada pela estiagem, a esperança resiste em meio ao cenário de morte. O verde contrasta com galhos secos de plantas que agonizam pela falta de água, até mesmo as mais resistentes, cansadas de lutar pela sobrevivência, após a seca mais longa na história do Brasil, de 2012 a 2017. Persiste, porém, o vegetal de nome científico Cnidoscolus quercifolius, popularmente conhecido como faveleira, assim batizado por produzir uma semente leguminosa em forma de favo.
Sua presença no semiárido brasileiro acompanha a série histórica de secas no país, cujo início remonta ao final do século 19, época marcada por um movimento que buscava salvação diante da desigualdade social e das constantes intempéries climáticas. Liderados pelo peregrino Antônio Conselheiro, os humildes sertanejos construíram no interior da Bahia a cidade de Canudos, considerada uma ameaça à recém-criada república brasileira. Com essa motivação, os militares exterminaram a comunidade e, após cumprirem a missão, retornaram para suas cidades de origem. Alguns deles se dirigiram para o Rio de Janeiro, onde, sem salário, instalaram-se em construções improvisadas sobre o Morro da Providência. O local começou a ser chamado de Morro da Favela, em alusão à elevação próxima a Canudos, que ganhou esse nome pela presença abundante da faveleira. Foi a partir daí que se atribuiu o termo ‘favela’ às comunidades carentes informais, desenvolvidas sem infraestrutura urbana básica.
Apesar de ter o nome famoso por esse fato histórico, a favela original ainda é pouco conhecida pela população em geral. Para o homem do sertão, no entanto, representa uma relevante fonte de sustento durante as grandes secas. No Rio Grande do Norte, a planta faz parte da memória de pessoas como Salete Medeiros, 79 anos, moradora do município de São José do Seridó. Durante sua mocidade no sítio dos pais, em Caicó, dona Salete recorda que nas épocas de escassez o pai recorria à faveleira para alimentar os animais e a família.
As raízes eram consumidas pelo gado e as folhas pelas ovelhas, enquanto a madeira da árvore era transformada em cocho para os animais. A diversão das crianças, por sua vez, era coletar as sementes de faveleira. “A gente colocava no pilão, pisava, adicionava açúcar ou rapadura e comia a fuba. Era gostoso demais”, lembra-se com nostalgia do gostinho da infância. As saudades da juventude foram compartilhadas por dona Salete com os filhos, que cresceram escutando as histórias da poderosa planta, à qual a experiente mãe recorria para tratar as feridas das crianças.
O potencial da faveleira despertou a curiosidade de Josimar Medeiros, filho de dona Salete, que em 2006 decidiu plantar algumas mudas na propriedade da família, localizada na zona rural de São José do Seridó, distante cerca de 250 quilômetros de Natal. Professor de Geografia por formação e agricultor por experiência prática, Josimar observou o crescimento das faveleiras e percebeu que, na verdade, a espécie é mais importante do que se pensava.
Do campo para a universidade
Da pequena plantação, brotou a ideia do projeto de pesquisa elaborado por Josimar Medeiros para o doutorado do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Prodema/UFRN). A tese, defendida em dezembro de 2017, identificou a faveleira como espécie-chave cultural do bioma Caatinga e destacou seu protagonismo na reabilitação de áreas desertificadas (AD) ou em processo de desertificação (APD). Para chegar a essas conclusões, o pesquisador realizou observações in loco, revisão da literatura, entrevistas e plantio do vegetal em AD e APD, com auxílio de agricultores familiares.
Na área em processo de desertificação, constatou-se que em 2014 permaneciam vivas 65 das 82 mudas introduzidas por Josimar em 2009, mediante a técnica de uso de embalagens plásticas. Para a área desertificada, os agricultores sugeriram usar tanto as embalagens quanto a sementeira para o plantio das mudas, realizado em 2015. Um ano depois, das 60 mudas introduzidas com cada técnica, sobreviveram respectivamente 56 e 46. Apesar de os números serem mais favoráveis para as embalagens plásticas, a praticidade de transporte das sementeiras fez com que esta técnica fosse replicada para plantio pela comunidade de São José do Seridó, onde atualmente existem aproximadamente 10 hectares de faveleira.
“Mesmo sem prevermos no projeto de doutorado, o vegetal foi disseminado entre os agricultores e se tornou uma política pública do município. As mudas são distribuídas gratuitamente pela prefeitura”, citou Josimar, quando recebeu a equipe da ASCOM Reitoria em São José do Seridó. Fomos recepcionados na Escola Estadual Raimundo Silvino, local de trabalho do professor, que desenvolve há mais de 20 anos com seus alunos o plantio de mudas das mais variadas espécies – inclusive a faveleira. Depois visitamos a comunidade rural de São Paulo, onde reside dona Salete, cuja propriedade se tornou o campo da pesquisa acadêmica. Lá conhecemos pessoalmente as faveleiras plantadas por Josimar no habitat típico dessa espécie, classificada como xerófita pela adaptação ao clima semiárido e desértico.
O irmão do pesquisador, Josenilson Medeiros, foi um dos agricultores que auxiliaram no cultivo da planta. Criador de gado, alimenta os animais com a vegetação rasteira, conhecida popularmente como ‘babugem’, que desaparece nas épocas de pouca chuva e aos poucos estava sumindo permanentemente pelo processo de desertificação – fenômeno causado por efeitos climáticos e ações humanas. Sem alternativa, ele precisava comprar alimento nas épocas de seca para manter a criação, apesar do difícil retorno financeiro por meio da venda de leite. Após a introdução da faveleira, a realidade apresentou transformações visíveis a olho nu.
“Quando a terra está desprotegida, a água vai causando erosão e leva embora a própria babugem. Com a faveleira no terreno, o pasto e as sementes que caem no chão têm onde se proteger, embaixo daquelas raízes, e conseguem se segurar. A planta protege o solo, sem falar no que traz de bom para os animais”, explica Josenilson, ao detalhar que as folhas caem das faveleiras e são consumidas pelo gado justamente nas épocas sem chuva e pastagem. Segundo o agricultor, o vegetal exige pouco trabalho: basta plantar no período correto e com a técnica adequada, sem preocupações posteriores de manutenção.
Impacto social
Presente na vegetação do Rio Grande do Norte há pelo menos um século, a faveleira tem forte relação com a sobrevivência do povo sertanejo. Essa foi a constatação de Josimar após realizar entrevistas com 57 pessoas, com faixa etária de 30 a 100 anos, residentes em diferentes comunidades nas quais a planta é bem distribuída na paisagem. O grupo apresentou utilidades da faveleira tanto para a alimentação de animais quanto humana, além de ser explorada na medicina popular e ter a madeira aproveitada para a confecção de objetos. De alto valor nutritivo, a semente é a única parte consumida por homens e mulheres, que da matéria-prima produzem a tradicional fuba, biscoitos, bolos e cocadas. Da mesma semente, ainda é possível extrair leite e óleo, potenciais fontes de renda para a população local.
Esses e outros fatores levaram à inédita classificação da faveleira como espécie-chave cultural do bioma Caatinga, pelo papel fundamental para a comunidade humana e a manutenção de sua cultura. A nova pretensão do pesquisador é comprovar que a planta também é espécie-chave ecológica, dada a importância da sua contribuição para manter o ecossistema. “Durante as secas ela permanece viva, alimenta a fauna e proporciona o crescimento de outras espécies debaixo da sua copa”, alega.
As novas descobertas e o resgate do uso da faveleira podem ter impacto significativo na realidade sertaneja, cita a secretária adjunta de Educação a Distância da UFRN, Ione Rodrigues Morais, que foi professora de Josimar Medeiros na época da graduação no campus de Caicó. Entusiasta da pesquisa, a docente estimulou o aluno a transformar as percepções sobre o vegetal em projeto de doutorado. “A pesquisa possui grande relevância por levar em conta os elementos da realidade do semiárido e tratar de uma espécie da própria Caatinga”, frisa Ione.
A proposta foi abraçada pelo professor Magdi Ahmed Ibrahim Aloufa, orientador de Josimar, com quem já publicou quatro artigos provenientes da pesquisa de doutorado. Para o professor, as diversas utilidades práticas encontradas para a faveleira atendem à proposta de aplicabilidade dos estudos desenvolvidos no Prodema, programa concebido em formato de associação entre sete universidades nordestinas. “Trabalho científico não serve apenas para engavetar, e sim para ser aplicado”, defende Magdi, que considera essencial o surgimento de novas pesquisas acadêmicas sobre a faveleira.
Caicó está inserida em pleno semi-árido nordestino, no Sertão do Seridó, região caracterizada pela escassez de chuvas, altas temperaturas, baixa umidade e uma paisagem marcada pela vegetação da Caatinga (do tupi: mata branca), que é um tipo de formação vegetal com características bem definidas: árvores baixas e arbustos que, em geral, perdem as folhas na estação das secas (espécies caducifólias), além de muitas cactáceas.
A caatinga encontra-se principalmente na região nordeste e sudeste do Brasil. É muito rica em sua biodiversidade, abrigando espécies animais e vegetais muito curiosas e de formas às vezes bizarras, com uma adaptação aos fatores ambientais sobretudo à escassez de água. Tem uma fisionomia de semi-deserto, com índices pluviométricos muito baixos e submetido a ventos fortes e secos, contribuindo para a aridez da paisagem nos meses de seca.
No entanto, as crianças de nossas escolas inseridas neste ambiente, muitas vezes não têm o conhecimento necessário sobre o que realmente seja a caatinga, lhes faltando a leitura do mundo, que, segundo FREIRE (1987), somente aplicando essa relação mundo, pensamento e palavra é que poderemos estabelecer todo o processo de aprendizagem humana na qual construiremos uma educação mais significativa, real, motivante e prazerosa para o aluno.
Essa aprendizagem é sempre um ato criador, mediante o qual se produzem novos sentidos culturais e auto-compreensão do sujeito. Porém nas nossas escolas nem sempre é explorado esse momento criador, perdendo-se o resgate do conhecimento prévio e valioso dos alunos de origem rural e impedindo que os alunos urbanos procurem compreender a importância da caatinga para a manutenção de nossas vidas.
Por outro lado, os livros didáticos possuem um enorme vazio de informações a respeito da caatinga; colocam a ciência se utilizando da natureza como uma fonte inesgotável de recursos; mostram o universo e os homens vivendo em perfeita harmonia, colocando os efeitos do desenvolvimento científico e tecnológicos como sempre benéficos.
Isso faz com que o aluno se distancie cada vez mais de sua realidade dificultando assim sua aprendizagem, já que diversos especialistas e autores defendem a concepção de uma educação mais significativa e voltada à realidade do aluno, como sendo um caminho para que a arte do ensino-aprendizagem se torne mais real, motivante e prazerosa para o mesmo.
É notória, portanto a necessidade de um ensino que possibilite o estudante a ter acesso a uma forma de interpretação do mundo que o cerca, ou seja, identificar uma proposta metodológica usando a caatinga – que é tão rica e diversificada – como instrumento pedagógico para que possa ser aplicada com com nossas crianças, analisado dessa forma, uma aprendizagem que permita compreender, descrever e representar, de forma organizada, o mundo que vive o aluno, ou seja, o seu meio ambiente.
Por Anselmo Santana – Texto retirado de nossa Monografia A flora e a fauna do Seridó como instrumentos pedagógicos.